quinta-feira, 10 de outubro de 2013

GREEMPEACE E ONG ALEMÃ URGEWALD ANALISAM SEMELHANÇA ENTRE ANGRA E FUKUSHIMA

GREENPEACE E ONG ALEMÃ URGEWALD ANALISAM SEMELHANÇA ANGRA E FUKUSHIMA
Laudo elaborado por dois especialistas brasileiros a pedido do Greenpeace e da ONG alemã Urgewald, alerta sobre as baixas medidas de segurança e outras deficiências de projeto em torno na construção da usina atômica Angra 3.
A usina atômica Angra 3 vem sendo construída em Angra dos Reis, onde já se localizam Angra 1 e 2, e está programada para entrar em funcionamento em dezembro de 2015. Ela poderá fornecer até 1.405 Megawatts de potência.

Localização de Angra 3
O laudo sobre o nível de segurança da usina atômica Angra 3 foi elaborado pelo professor Dr. Célio Bermann, do Instituto para Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, e pelo Dr. Francisco Corrêa, antigo professor do mesmo instituto e atua hoje em dia como consultor técnico. O Dr. Corrêa já elaborou diversos estudos para o IBAMA, dentre os quais alguns foram aproveitados no processo de aprovação de Angra 3.
Resumo dos principais resultados
Analisando tecnicamente, o design de Angra 3 é ultrapassado. O reator de referência é aquele da usina alemã de Grafenrheinfeld, a qual será desativada em 2015. Em muitos aspectos centrais de segurança, Angra 3 permanece atrás das mais modernas normas. Preocupante são os seguintes aspectos:
- A espessura da cúpula de 60cm é apenas metade daquela de Grafenrheinfeld. Isso significa que o reator não está protegido suficientemente contra quedas de aviões de passageiros nem contra explosões de hidrogênio.
- Angra 3 é o projeto mais antigo dentro das concepções disponíveis da Areva. De acordo com as inúmeras exigências de segurança, ela não corresponde às internacionais “best practice”. Entre elas estariam a dupla cúpula de proteção, segurança contra quedas de aeronaves e outros fatores externos através de quatro redundantes sistemas ativos de segurança ou Core Catcher sob a cúpula principal. Sob alguns aspectos a instalação não satisfaz nem ao menos as exigências de segurança que foram previstas após o acidente em Three Mile Island, em 1979.
No processo de aprovação podem ser verificados erros graves, pois para a análise probabilística da segurança (PSA) [1], foram considerados os dados da construção do reator Biblis B, sem todavia considerar a diferença entre ambos os tipos de reator. Desta foram utilizados os resultados de uma análise das consequências de um reator alemão no Brasil. A experiência adquirida no funcionamento de Angra 2 não foram considerados, embora Angra 2 e 3 sejam irmãs gêmeas e apresentam condições idênticas quanto ao funcionamento, meio ambiente e pessoal capacitado.
Além disso , no processo de aprovação não foram analisadas questões importantes como por exemplo a verificação de um local alternativo, a resistência do reator em relação aos inúmeros fatores externos, análise das consequências provocadas por um acidente grave e crescente perigo potencial em uma emergência devido à construção de um outro reator no mesmo local.
O local Angra dos Reis não é apropriado para a construção de uma usina nuclear: tanto o perigo de deslizamento de terra assim como as inexistentes possibilidades de evacuação já deveriam eliminar este local para a construção de uma usina nuclear. De fato, Angra dos Reis não iria cumprir os critérios hoje válidos como localização de uma usina nuclear: primeiramente devido à instabilidade geológica do solo local e segundo, porque situa-se muito próxima à cidade Angra dos Reis (170 mil habitantes).

Construção de Angra 3
Os riscos de terremoto e tsunami são baixos devido às características geológicas da região de Angra dos Reis. O maior terremoto na região aconteceu em 2008 no estado vizinho de São Paulo e alcançou o valor de 5,2 da Escala Richter.
Mesmo nos estudos oficiais sobre o impacto ambiental em Angra 3, foi verificado que os dados disponíveis atualmente são insuficientes para poder avaliar satisfatoriamente um real risco de terremoto na região. No caso de tsunamis vale o mesmo, ou seja, a falta de levantamento de dados suficientes não possibilita avaliar o risco potencial de uma usina atômica em Angra.
Outros fenômenos atmosféricos com furacões e tornados não foram verificados no contexto da segurança das instalações nucleares. Salienta-se aqui que nos últimos anos um número crescente de fenômenos foram registrados no litoral sudeste e sul do país (no Estado vizinho, são Paulo, foram registrados nos últimos 50 anos mais de 50 tornados e vendavais, alguns com velocidade do vento superior a 300 km/h, algo que as instalações em Angra não poderiam suportar; no litoral carioca foram registrados nos últimos 10 anos quatro tornados de forte intensidade). Especialistas em Clima partem do pressuposto que a probabilidade de excessos climáticos em consequência do aquecimento global aumentará nos próximos anos.
O maior perigo externo para a segurança de uma usina nuclear vem dos deslizamentos de terra. Com grande frequência aparecem na região como resultado das fortes chuvas dos meses de verão, entre novembro e março, maciços deslizamentos de terra, o que leva as autoridades a decretarem frequentemente o estado de emergência. Em 2010, devido a deslizamentos e consequente avalanches de terra e soterramentos, que fez desaparecer toda uma encosta, morreram mais de 30 pessoas na cidade de Angra dos Reis. Em 2011, o Estado do Rio de Janeiro registrou a morte de mais de 1.000 pessoas após as fortes chuvas e desabamentos de terra. Segundo dados da ONU, a tragédia de 2011 ficou entre os 10 piores deslizamentos de terra em todo o mundo.
Deslizamentos de terra representam um perigo real para a segurança de uma usina nuclear em Angra dos Reis. Em 1985, devido a um deslizamento, o laboratório radioecológico na área do reator foi atingido. Além disso, também devido a um deslizamento, a instalação emergencial de energia das instalações também foi destruída. Dentro do contexto do acidente de Fukushima, é discutido no Brasil a ampliação do abastecimento emergencial de energia para as instalações nucleares. De concreto está planejada a construção de uma pequena usina hidroelétrica adicional. Mas também esta solução parece ser insuficiente, pois os cabos de transmissão também podem da mesma forma ser destruídos pelos deslizamentos de terra.
Estes deslizamentos escondem além disso um outro perigo, onde a principal rota de fuga, a rodovia BR 101, pode ter seu fluxo reduzido ou até mesmo impedido devido ao desmoronamento de pedras e massas de terra. Por causa das condições topográficas: encostas íngremes que se forma desde a costa, não permitem facilmente a aplicação de medidas de segurança em muitas partes da rodovia e têm um custo operacional altíssimo. Medidas de segurança correspondentes, embora já tenham sido exigidas pelos órgãos ambientais na ocasião da aprovação de Angra 2 há mais de 10 anos, foram aplicadas parcialmente em áreas planas e em curtos trechos. Caso acontecesse um acidente nuclear do porte de Fukushima, as consequências seriam gravíssimas, pois tanto o acesso para o pessoal de resgate assim como a evacuação da população atingida estariam seriamente prejudicados. Adiciona-se a este cenário que não existem transportes públicos em número suficiente para transportar a população. A ampliação de rotas de fuga alternativas que são discutidas desde Fukushima através de navios e aviões, não pode garantir da mesma forma uma ampla evacuação da população.
A deficiente localização de Angra, com seus inúmeros problemas, é agravada diante dos precários planos de evacuação e emergência, criticados há vários anos. A vista dos acontecimentos em Fukushima, o reduzidíssimo raio de evacuação representa um enorme risco à segurança: ele compreende apenas a distância de 5 km das instalações. Todas as pessoas que moram além da usina, são aconselhadas a permanecer em suas próprias casas em casos de acidente. Planos para evacuação da população de Angra dos Reis (cerca de 170.000 habitantes), que localiza-se a 15km, não existem, mesmo depois da experiência de Fukushima. Também permanece sem consideração nos planos de emergência o fato de Angra dos Reis receber anualmente centenas de milhares de turistas – a maior deles visita a região nos meses de verão com alta incidência pluviométrica.

Ilustração da futura usina nuclear “Angra 3″
O Brasil não possui um órgão independente para questões nucleares. A CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear é responsável tanto pelo processamento e produção, quanto também pelo controle das usinas nucleares. A convenção internacional para segurança nuclear, que foi adotada na leis nacionais pelo congresso brasileiro em 1997/98, prescreve todavia uma separação funcional entre os órgãos de controle e produção de energia atômica. Planos para criação de um novo órgão nacional e independente para regulação do setor estão na prateleira desde 2009.
Um erro grave quanto à falta de um órgão independente é a aplicação inadequada dos requisitos fundamentaispara a construção e funcionamento de instalações nucleares. A usina de Angra 2, que está ligada à rede de energia desde 2001, teve seu alvará de funcionamento definitivo aprovado há pouco tempo. Alguns requisitos de funcionamento (por exemplo, a construção de uma rota de fuga na BR 101, estudos adicionais sobre planos de evacuação para a zona de 3-5 km ou a licença para a planejada expansão da capacidade de armazenamento de lixo radioativo para Angra 2) não foram até hoje aplicados. A licença de construção de Angra 3 também está ligada a inúmeras condições. Haja visto o fato de que o órgão de controle CNEN não exerce um controle rigoroso de tais requisitos em outras instalações nucleares, devemos temer que isso também aconteça em Angra 3.
Resumindo, os laudos chegam à conclusão de que Angra não é adequada como localização – nem geológica (deslizamento de terra, solo instável), nem geográfica (proximidade com o mar e a grande cidades), técnica (design de segurança ultrapassado) ou politicamente segura (inexistente órgão de controle autônomo e implementação confiável de importantes requisitos de segurança) – para a construção de outro reator. Diante dos inúmeros riscos existentes, a possibilidade de um acidente nuclear em grande escala – como em Fukushima – não pode ser descartada.
Resumo do estudo encomendado pelo Greenpeace e Urgewald.

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